24 Agosto, 2008

Novo teste para esquistossomose

O Helm Teste é o novo produto da linha de reativos para diagnóstico do Instituto de Tecnologia em Imunológicos (Biomanguinhos) da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

Baseado na tecnologia do método Kato-Katz, o teste é recomendado pela Organização Mundial de Saúde e serve para fazer exame parasitológico de fezes. O produto foi lançado no 11º Simpósio Internacional sobre Esquistossomose, que termina nesta sexta-feira (22/8), em Salvador.

O método Kato-Katz dispensa água, luz ou qualquer acessório para preparar lâminas, que podem ser conservadas em temperatura ambiente até dois anos.

O exame das lâminas é possível logo após a sua preparação ou meses depois – se conservado em lugar seco, fechado e protegido de insetos – em um laboratório. Isso permite realizar testes em regiões distantes do país sem infra-estrutura laboratorial.

Segundo a Fiocruz, o produto, que tem registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), possibilita melhor diagnóstico e controle de qualidade com as lâminas, preparo mais fácil e exame parasitológico de fezes na determinação qualitativa e quantitativa de ovos de helmintos. São revelados ovos de Ascaris, Schistosoma, ancilostomídeos, Trichuris, Taenia e com menos freqüência os de Enterobius e Strongyloides.

A utilização do Helm Teste permitirá a identificação mais rápida da incidência de enfermidades como a esquistossomose. O Ministério da Saúde, por meio de Biomanguinhos, distribuirá, inicialmente, kits em seus programas de controle e combate à esquistossomose. O objetivo é contribuir para a melhoria dos padrões da saúde pública brasileira.

Fontes:

Fundação Oswaldo Cruz

Agencia FAPESP

18 Agosto, 2008

Metagenoma: sequenciando o invisivel

Cientistas desenvolvem método para seqüenciar genoma completo de organismos desconhecidos.

Quando o grupo do geneticista e empresário norte-americano Craig Venter seqüenciou organismos em amostras de água marinha a fim de usar a genética para entender as comunidades ecológicas invisíveis, o resultado foi decepcionante: um amontoado de fragmentos de DNA pertencentes a milhares de microrganismos desconhecidos.


Um novo estudo avaliou amostras da lama do lago Washington, nos Estados Unidos – onde há comunidades de microrganismos ainda mais complexas do que na água do mar –, e se deteve sobre as bactérias que cumprem a tarefa ecológica de consumir metano.

Segundo os autores, o estudo, publicado na edição deste domingo (17/8) da revista Nature Biotechnology, indica um caminho promissor para o seqüenciamento do genoma de organismos não-identificados.

“O trabalho demonstra que podemos conseguir um genoma completo a partir de um organismo completamente desconhecido”, afirma a autora principal do artigo, Ludmila Chistoserdova, do Departamento de Engenharia Química da Universidade de Washington.

Chistoserdova destaca que, como poucos microrganismos sobrevivem em laboratório, a maior parte permanece desconhecida. A genética tem potencial para revelar as comunidades microscópicas, mas essa solução esbarra nas dificuldades metodológicas: a maior parte das ferramentas genéticas utiliza trechos curtos de código genético conhecido.

“O método convencional consiste em procurar esses trechos curtos e copiá-los do ambiente, ou amplificá-los. Mas o problema é que essa amplificação só pode ser feita quando sabemos o que tentamos encontrar. Quando queremos estudar algo desconhecido, a amplificação é uma técnica insuficiente, que só nos permite descobrir o que já sabíamos”, explicou.

Em busca do realmente desconhecido, os pesquisadores dirigiram o foco para uma função ecológica específica de alguns microrganismos: a de consumir compostos de carbono simples, como o metano. Inicialmente, eles coletaram amostras da lama do fundo do lago Washington, um típico lago de água doce, temperatura moderada e níveis médios de compostos como o metano, produzido no sedimento pelos organismos decompositores.

O passo seguinte foi misturar a lama com cinco diferentes amostras de alimento marcadas com carbono-13, um isótopo pesado do carbono. Com o tempo, os organismos que consumiram o alimento marcado no laboratório incorporaram o carbono pesado em suas células e em seu DNA.

Os pesquisadores separaram o DNA por peso, sabendo que os mais pesados deviam pertencer aos organismos que ingeriram o alimento marcado. Chistoserdova avalia que as amostras originais de lama continham cerca de 5 mil micróbios diferentes, mas os cinco lotes de DNA marcado continham apenas uma dúzia de organismos.

Os pesquisadores então puderam juntar os fragmentos de DNA com carbono-13 para montar o genoma completo da Methylotenera mobilis, um micróbio que se alimenta de metilamina, uma forma de amônia. Eles também produziram o genoma parcial da Methylobacter tundripaludum, que se alimenta de metano e resiste à cultura em laboratório.

A descoberta de seqüências genéticas completas de organismos pode ter diversas utilidades. Por exemplo, o código genético pode produzir pistas que viabilizem o cultivo de micróbios em laboratório, permitindo que eles sejam mais bem estudados pelos cientistas, facilitando as aplicações práticas.

Outros grupos de pesquisa podem procurar pelo DNA no ambiente, como uma sinalização de que o mesmo micróbio está presente em outros locais. E conhecer a identidade dos organismos ecologicamente mais importantes ajudaria a compreender os ciclos ecológicos e monitorar, por exemplo, os impactos das mudanças climáticas nas populações microbianas.

O artigo High-resolution metagenomics targets specific functional types in complex microbial communities, de Ludmila Chistoserdova e outros, pode ser lido por assinantes da Nature Biotechnology em www.nature.com/nbt.

Fontes:

Agencia FAPESP

06 Agosto, 2008

Sequenciamento do Genoma de Cana-de-Acucar

Cientistas discutiram no Workshop do Programa FAPESP de Pesquisa em Bioenergia em Genômica de Cana-de-açúcar sobre as técnicas e estrategias para o sequencimento do genoma da cana-de-açucar.

De acordo com a coordenadora do evento realizado na sede da Fundação, Marie-Anne Van Sluys, professora do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (USP), o objetivo do workshop foi realizar uma atualização do conhecimento na área.

“A proposta era trazer todos – tanto brasileiros como estrangeiros – para o nível do que temos hoje na genética e na genômica da cana-de-açúcar, com destaque para potenciais usos no melhoramento, na transformação e nos aspectos evolutivos”, disse Marie-Anne à Agência FAPESP.

Segundo ela, o evento representou um primeiro passo para construir a plataforma e fazer o seqüenciamento do genoma da cana-de-açúcar. “O BIOEN realizará essa tarefa, em um primeiro momento, em pequena escala, seqüenciando mil pedaços lineares do genoma da cana que tenham regiões de interesse para o programa, nos próximos quatro anos”, salientou.

“A partir das discussões apresentadas no workshop ficou claro que o genoma é complexo, mas também que existem estratégias de diferentes lugares que vão nos ajudar a montar essa infra-estrutura”, afirmou.

Segundo a pesquisadora, o projeto tem duas vertentes, que permearam todas as apresentações. Uma delas é a que vai montar a infra-estrutura de seqüenciamento e análise. A outra corresponde às descobertas científicas que o projeto deverá gerar.

“Ainda conhecemos muito pouco sobre o que faz a cana ser diferente de espécies próximas como sorgo e arroz, ainda que compartilhem muitos genes em comum. Conhecemos vários dos ingredientes, mas a combinação deles é o que faz a cana ser o que ela é”, explicou.

Na abertura do evento, o diretor científico da FAPESP, Carlos Henrique de Brito Cruz, explicou que o programa BIOEN, lançado no dia 3 de julho, tem o objetivo de estimular e criar condições para que os cientistas do Estado de São Paulo desenvolvam projetos de pesquisas relevantes em temas relacionados à bioenergia.

“A bioenergia é uma importante oportunidade para o Brasil e para o mundo, por atender a necessidades que vão desde a geração de energia até as estratégias para limitar a emissão de gases de efeito estufa”, disse Brito Cruz.

Segundo ele, o Brasil tem uma liderança expressiva não apenas na produção de etanol, mas também no conhecimento relativo ao melhoramento genético da cana-de-açúcar. “O Programa BIOEN foi, portanto, construído sobre bases relevantes de conhecimento."

O BIOEN apóia pesquisa básica e aplicada sobre biocombustíveis, com o objetivo de acumular conhecimento para a produção sustentável e aplicações em áreas relacionadas à produção de bioenergia. A iniciativa conta com investimentos iniciais de R$ 73 milhões, envolvendo instituições acadêmicas ou em associação entre universidades e empresas.

Novas estratégias de seqüenciamento

Francis Quetier, responsável pelo Departamento de Ecossistemas e Desenvolvimento Sustentável da Agência Nacional de Pesquisa (ANR) da França, falou sobre a evolução das tecnologias e estratégias para o seqüenciamento do genoma.

Segundo ele, que foi o criador do Centro Nacional de Seqüenciamento (Genoscope), o seqüenciamento e a análise do genoma da planta impõem dificuldades técnicas específicas.

“O problema com o seqüenciamento da cana-de-açúcar é que ela tem uma estrutura cromossômica bastante complexa. As variedades mais utilizadas da planta têm uma centena de cromossomos, vários quase idênticos”, disse o professor francês à Agência FAPESP.

No seqüenciamento parte-se de pequenos fragmentos de DNA para tentar reconstruir o que eles eram dentro do cromossomo. No caso da cana-de-açúcar, corre-se o risco de não conseguir saber em qual cromossomo estava cada seqüência, porque muitos deles são extremamente parecidos.

“Com isso, utilizando os aparelhos atuais, somos obrigados a utilizar o que chamamos de uma profundidade maior – ou o número de repetições feitas para cada cromossomo. Isto é, em vez de repetir o equivalente a 20 vezes o genoma, seremos obrigados a fazer cerca de 40 ou 50 vezes para ter mais confiabilidade”, explicou.

Com o advento de novos seqüenciadores, será possível chegar a 40 ou 50 vezes o equivalente ao genoma sem aumentar muito o custo, segundo Quetier. “Espero que com estratégias como o WGS possamos ter uma grande quantidade de informações sobre o genoma da cana-de-açúcar”, disse.

Segundo ele, a estratégia WGS consiste em quebrar o DNA em pequenos fragmentos que são seqüenciados isoladamente. Como há vários equivalentes genômicos, ocorre uma sobreposição dos fragmentos. Identificando essa sobreposição é possível reunir os fragmentos, reconstituindo a ordem dos nucleotídeos sobre cada um dos cromossomos.

“Acredito que conseguiremos a qualidade de informação que procuramos, combinando as estratégias disponíveis. Poderemos seqüenciar as extremidades de grandes regiões ou aumentar a profundidades de pequenos trechos”, afirmou.

Sorgo: modelo para a cana

Andrew Paterson, da Universidade da Geórgia, nos Estados Unidos, apresentou trabalho inédito no qual utilizou o mapeamento genético do sorgo para auxiliar na identificação de regiões ricas em genes semelhantes aos da cana-de-açúcar. Segundo o cientista, que é especialista em genomas de gramíneas, o trabalho será publicado em breve em uma revista de alto impacto.

“Há cerca de 15 anos sabemos que os genomas do sorgo e da cana-de-açúcar são muito semelhantes, exceto pelo fato de que o genoma do sorgo tem apenas uma cópia de cada cromossomo e o da cana-de-açúcar tem oito a dez cópias e que, por isso, é muito mais difícil para estudar”, disse.

O genoma do sorgo foi seqüenciado há cerca de dois anos e agora sua análise está nos estágios finais de conclusão. “Esperamos que a análise da seqüência genética do sorgo sirva como um ponto de partida, como um modelo, para chegar a um melhor entendimento do genoma mais complexo da cana-de-açúcar”, afirmou.

Glaucia Mendes de Souza, do Instituto de Química da USP, apresentou os resultados do Projeto Sucest-FUN, também conhecido como Projeto Genoma da Cana, que estabeleceu condições para o conhecimento de variações de expressão gênica em diferentes variedades de cana-de-açúcar.

Segundo Glaucia, o projeto, finalizado em 2003 – e que envolveu 240 pesquisadores de mais de 40 instituições, sendo 17 delas do exterior – avaliou o transcriptoma da planta e montou um vasto banco de dados sobre o material genético da planta.

“O banco de dados do Sucest reúne informações sobre o seqüenciamento de cerca de 240 mil fragmentos de genes, denominados ESTs, ou etiquetas de seqüência expressa. O projeto nos deu base para montar o BIOEN”, disse.

No workshop, Angelique D’Hont, do Centro de Cooperação Internacional em Pesquisa Agronômica para o Desenvolvimento (Cirad), na França, falou sobre as comparações entre regiões ricas em genes de gramíneas e a estabilidade do genoma poliplóide da cana-de-açúcar.

O genoma do arroz foi o tema de Robin Buell, da Universidade Estadual de Michigan, e de Jan Leach, da Universidade Estadual do Colorado, nos Estados Unidos. Michel Vincentz, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), abordou o tema “Fatores de transcrição: kits de ferramentas genéticas para evolução de plantas”.

Os genomas da cana-de-açúcar e do sorgo foram abordados por Ray Ming, da Universidade de Illinois, nos Estados Unidos. O genoma poliplóide da cana-de-açúcar e o desenvolvimento de marcadores moleculares foi o tema de Antônio Augusto Franco Garcia, do Departamento de Genética da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da USP.

“Da planta ao gene: como preservar, manter e explorar recursos genômicos” foi o tema de Helene Berges, do Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS, na sigla em francês), da França. “Melhorando a cana-de-açúcar” foi o tema de Graham Bonnett, da CSIRO Plant Industry. “Ambiente genômico dos elementos transponíveis expressos da cana-de-açúcar” foi o tema de Marie-Anne Van Sluys.

Fontes:

Agencia FAPESP

04 Agosto, 2008

Celulas Tronco na Esclerose Lateral Amiotrofica

Cientistas das universidades de Colúmbia e Harvard, nos Estados Unidos, conseguiram transformar células da pele de um portador de esclerose lateral amiotrófica (ELA) em neurônios.

O resultado inédito é considerado uma grande conquista para a medicina, uma vez que pode levar à produção de células específicas para o tratamento da doença incurável.

A esclerose lateral amiotrófica é uma degeneração progressiva que atinge os neurônios motores presentes no cérebro e na medula espinhal. Trata-se de doença que, aos poucos, dificulta a execução de ações corriqueiras como andar, comer, falar ou mesmo respirar.

O novo estudo, liderado por Kevin Eggan, de Harvard, foi publicado nesta quinta-feira (31/7) na edição on-line da revista Science. É a primeira vez que células da pele de um paciente crônico são reprogramadas em um estado de célula-tronco e, em seguida, em neurônios.

Apesar de terapias de substituição de um tipo de célula por outra ainda estarem distantes, as novas células ajudarão a resolver um problema que tem emperrado o estudo da ELA, que é a dificuldade de estudar em laboratório os neurônios motores de um portador da doença.

“Até agora não se havia conseguido acessar os neurônios afetados pela ELA e, embora todos estivessem empolgados com o potencial das novas tecnologias, não se sabia ao certo que elas poderiam ser usadas para obter tais células a partir das células da pele dos pacientes”, disse Chris Anderson, da Universidade de Colúmbia, um dos autores do estudo.

“Nosso estudo mostra que somos capazes de gerar centenas de milhões de neurônios motores que são geneticamente idênticos aos neurônios do paciente. Isso será de imensa ajuda à medida que tentamos descobrir os mecanismos por trás da doença e desenvolver medicamentos”, afirmou.

Com a técnica, cientistas poderão produzir neurônios de portadores de ELA e acompanhar in vitro o processo de evolução da doença. “A geração de células-tronco pluripotentes de um paciente permitirá a produção em larga escala dos tipos de células afetadas pela doença”, destacaram no artigo.

A técnica usada para gerar células-tronco pluripotentes induzidas, considerada um dos maiores avanços no setor, foi apresentada em novembro de 2007 por cientistas japoneses e norte-americanos. No trabalho do ano passado foram usadas células de pessoas saudáveis, mas no novo estudo os autores mostraram que o mesmo pode ser feito com células de portadores de ELA. Na pesquisa, os neurônios foram gerados a partir de células da pele de uma mulher de 82 anos.

Fontes:

Induced Pluripotent Stem Cells Generated from Patients with ALS Can Be Differentiated into Motor Neurons

Agancia FAPESP