25 Novembro, 2007

Celulas-tronco sem embriao

Pesquisadores conseguiram reprogramar células adultas da pele humana transformando-as em células pluripotentes que são capazes de se diferenciar em outros tecidos do corpo, como as células-tronco embrionárias, mas sem a destruição de embriões.

O trabalho do grupo de James Thomson, da Universidade de Wisconsin em Madison, nos Estados Unidos, terá resultados publicados na edição desta sexta-feira (23/11) da revista Science. O grupo coordenado por Shinya Yamanaka, da Universidade de Kyoto, no Japão, publicará seu estudo na edição de 30 de novembro da revista Cell.

De acordo com Thomson, que em 1998 foi o primeiro a isolar células-tronco embrionárias humanas, os trabalhos poderão mudar inteiramente o panorama das pesquisas com células-tronco, ao abrir a perspectiva de futuras terapias que contornem a discussão ética ligada ao uso de embriões.

Para fazer a reprogramação, os cientistas contaram com a ajuda de retrovírus para introduzir em fibroblastos (células do tecido conjuntivo) quatro genes ligados ao processo de especialização das células.

Segundo Stevens Rehen, professor do Departamento de Anatomia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o feito é extraordinário e terá implicações decisivas na pesquisa científica, mas não significa que se possa deixar de lado a pesquisa com células-tronco embrionárias humanas.

“Os trabalhos abrem uma nova avenida para estudos na área e são um avanço fantástico em todos os aspectos. Mas é importante lembrar que eles só foram possíveis graças às pesquisas com células-tronco embrionárias e que ainda há um longo caminho para um hipotético uso terapêutico dessa técnica”, disse à Agência FAPESP.

A técnica já havia sido utilizada em 2006, com células de camundongos, pelo mesmo grupo japonês. Desde então equipes de diversos países tentavam reproduzi-la em humanos.

Segundo Rehen, o provável uso da técnica a médio prazo será a criação de um portfólio de células-tronco adultas com diversidade genética voltada para indivíduos de uma determinada população, visando ao uso no desenvolvimento de medicamentos sob medida.

“Certamente essa alternativa seria muito mais simples do que a produção de células pluripotentes a partir da clonagem terapêutica, mas ainda há muito o que ser aperfeiçoado”, afirmou.

Nos dois estudos, a geração das células-tronco pluripotentes teve baixa eficiência: de cada 1 milhão de células, apenas 200 puderam ser reprogramadas. Além disso, um dos genes utilizados nos estudos tem potencial cancerígeno e não há possibilidade de aplicação terapêutica segura enquanto não se descobrir como anular os retrovírus.


Acúmulo de conhecimento

Para a geneticista Mayana Zatz, coordenadora do Centro de Estudos do Genoma Humano da Universidade de São Paulo (USP), um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepid) da FAPESP, a possibilidade de utilizar a nova técnica para substituir as pesquisas com células-tronco embrionárias é exagerada.

“A importância da descoberta é que ela deverá abrir caminho para utilizar células adultas para diferenciação e estudo da expressão genética em diferentes tecidos”, disse Mayana. Mas, segundo ela, a técnica não poderia ser utilizada para terapia celular, porque depende da ativação de genes potencialmente cancerígenos.

“Além disso, os genes são introduzidos na célula com um retrovírus que pode se inserir em qualquer parte do genoma. O estudo foi feito in vitro e ninguém sabe como o vírus vai se comportar no organismo”, destacou.

Mas a pesquisa será importante também, segundo Mayana, para ajudar a comparar o comportamento das células pluripotentes induzidas com o das células-tronco embrionárias. “Poderemos também usar as células adultas para estudar pacientes com doenças genéticas. A técnica permitiria fazer isso de forma bem mais prática do que com a clonagem terapêutica, que é dificílima”, afirmou.

“Só esperamos que essa notícia não influencie os ministros do Supremo Tribunal Federal a votar contra a pesquisa com células-tronco embrionárias humana, pois isso seria um desastre”, destacou a pesquisadora.

Para Rehen, os trabalhos são resultados do acúmulo de conhecimento a partir da década de 1980 graças aos investimentos em pesquisas com as células-tronco embrionárias.

“Os trabalhos deverão alimentar ainda mais a polêmica entre os grupos favoráveis e contrários aos estudos com células-tronco embrionárias. Os grupos contrários podem até usá-lo como argumento, mas os próprios pesquisadores japoneses destacaram que conseguiram os resultados graças à sofisticação científica adquirida com estudos de células embrionárias”, disse.


Fonte:

Agencia FAPESP

20 Novembro, 2007

Cancer suspenso por celulas imunologicas

Células cancerosas dormentes são mantidas em estado de equilíbrio pelo sistema imunológico. As que escapam acabam se desenvolvendo em tumores. A conclusão é de um estudo publicado neste domingo (18/11) no site da revista Nature.

O trabalho identificou um estágio crucial na batalha, o ponto no qual o mecanismo de defesa barra a expansão do câncer que conseguiu se esquivar pelo monitoramento inicial feito pelo organismo.

Robert Schreiber, do Departamento de Patologia e Imunologia da Faculdade de Medicina da Universidade de Washington, nos Estados Unidos, e colegas usaram camundongos para mostrar que o sistema imunológico dos animais é capaz de manter o crescimento do tumor em xeque por um longo período.

Estudos anteriores haviam sugerido a existência desse estado de equilíbrio, devido ao fato de que tipos dormentes de câncer costumam se manifestar quando transferidos inadvertidamente de um determinado doador para um receptor com imunossupressão, durante transplante de órgão.

“Usamos um modelo animal de carcinogênese química primária e demonstramos que o equilíbrio ocorre. Mostramos que células tumorais em equilíbrio não estão editadas [no sentido do arranjo genético], mas se tornam editadas quando escapam espontaneamente do controle e crescem em tumores clinicamente aparentes”, descreveram os autores.

Segundo eles, o estágio agora confirmado deverá ajudar a explicar a presença de células cancerosas ocultas – em tumores na próstata, por exemplo – em indivíduos sem sintomas da doença.

Eventualmente, de acordo com os pesquisadores, a descoberta poderá ser usada para o desenvolvimento de terapias imunológicas que permitam ampliar o controle do crescimento de tumores próprio do organismo.

Fontes:

Adaptive immunity maintains occult cancer in an equilibrium state
Catherine M. Koebel, William Vermi, Jeremy B. Swann, Nadeen Zerafa, Scott J. Rodig, Lloyd J. Old, Mark J. Smyth, Robert D. Schreiber. Nature (18 Nov 2007) Letters to Editor.

Agencia FAPESP

03 Novembro, 2007

Virus e Cancer

Um novo estudo indica que os vírus podem contribuir para a ocorrência de câncer, por causar morte excessiva de células normais e promover o crescimento de células sobreviventes com traços cancerígenos.

De acordo com os pesquisadores, da Universidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos, os vírus podem agir como forças de seleção natural ao eliminar células normais, que apóiam a replicação viral, e deixar para trás as células que adquiriram defeitos em sua circuitaria.

Quando o processo é repetido incessantemente, o câncer pode se desenvolver, segundo o grupo coordenado por Preet Chaudhary. O estudo foi publicado na edição 24/10/2007 da revista PLoS One, da Public Library of Science.

A infecção com vírus tem sido ligada a diversas formas de câncer em humanos, incluindo os linfomas de Hodgkin e não-Hodgkin, sarcomas e câncer de garganta e fígado.

Os cientistas têm proposto diversos mecanismos para explicar a ligação. Uma hipótese conhecida é a de que o material genético do vírus alteraria a célula ao infectá-la, fazendo-a crescer descontroladamente e, eventualmente, levando ao câncer.

Estima-se que alguns vírus também promovam o câncer ao causar inflamação crônica. No novo estudo, os autores propõem que os vírus também possam levar ao câncer de maneira menos direta.

“Achamos que um mecanismo separado possa estar em jogo, de modo que um dano celular, como uma infecção viral, seleciona alguns clones mutantes preexistentes e promove seu posterior crescimento e multiplicação, levando eventualmente à emergência de células plenamente cancerígenas”, disse.

Em conseqüência, de maneira semelhante à influência da seleção natural durante a evolução, o excesso de células mortas – e não sua ausência – pode ser uma força decisiva para a emergência inicial do câncer. Chamamos esse modelo de paradigma da Fênix, no qual o câncer, teoricamente, nasce das cinzas das células mortas”, explicou Chaudhary.

O paradigma foi desenvolvido com base em um estudo de células infectadas com o herpesvírus associado ao sarcoma de Kaposi (KSHV). Os pesquisadores examinaram um gene conhecido como K13, que ativa um caminho previamente implicado no desenvolvimento de câncer. As células com baixa expressão de K13 permitiram a replicação do KSHV e essas células morreram em seguida.

As células com expressão mais alta de K13 emergiram depois da replicação do KSHV e mostraram expressão defectiva de duas proteínas-chave que são conhecidas como promotoras do câncer.

“Esse paradigma, se for validado em estudos futuros, terá implicações não apenas para um melhor conhecimento dos processos envolvidos no câncer, mas também para o desenvolvimento de estratégias efetivas para sua prevenção e tratamento”, destacou Chaudhary.

Fonte: Agencia FAPESP