30 Maio, 2006

RNA desafia leis de Mendel

Trabalho de pesquisadores franceses e norte-americanos sugere que a molécula do RNA está presente no esperma de camundongos e pode ser passada para o óvulo durante a fertilização, onde é capaz de silenciar a ação de genes e, assim, mudar traços físicos que deveriam estar presentes na prole. Os cientistas injetaram RNA de células mutantes nos animais e viram que tal procedimento alterava o funcionamento da versão normal do gene kit, que controla a existência ou não de manchas nos pés e rabo dos bichos. Ou seja, a dose extra de RNA fez aparecer pintas em roedores que não tinham herdado essa característica.

Fontes:
RNA-mediated non-mendelian inheritance of an epigenetic change in the mouse.
Nature 441, 469-474 (25 May 2006)

Revista Pesquisa Fapesp
Edição 123 - Maio 2006

24 Maio, 2006

Virus hibrido marca tumores

Um grupo de pesquisadores brasileiros que trabalham na Universidade do Texas, Estados Unidos, participou do desenvolvimento de uma nova classe de vírus híbridos que podem ser úteis para identificar e combater células tumorais. O vírus contém partes de dois vírus, um adenovírus e um bacteriófago. Pode dirigir-se a células tumorais, como foi demonstrado em camundongos, e sua atividade pode ser acompanhada por meio da tomografia de emissão de pósitrons. Esse vírus pode servir como vetor para genes a serem usados em terapia gênica para encontrar ou combater tumores, além de ajudar a avaliar a eficácia de medicamentos contra câncer, segundo Renata Pasqualini, pesquisadora brasileira que trabalha na Universidade do Texas e participou desse estudo, ao lado de Wadih Arap, outro brasileiro.

Fontes:

A Hybrid Vector for Ligand-Directed Tumor Targeting and Molecular Imaging
Cell 2006 125: 385-398.

Revista Pesquisa Fapesp
Edição 123 - Maio 2006

16 Maio, 2006

Mecanismo molecular da disqueratose

Grupo internacional de pesquisadores, com a participação do brasileiro Eduardo Rego, da USP de Ribeirão Preto, mostra o mecanismo molecular que causa uma rara doença hereditária, a disqueratose congênita, que deforma unhas, provoca manchas na pele e pode provocar a perda da medula óssea. Segundo o trabalho, mutações no gene DKC1, sabidamente envolvido com a enfermidade, modificam o comportamento do RNA dos ribossomos (as fábricas das proteínas) e essas alterações levam à ocorrência da doença.

Artigo completo no periódico Science:
Impaired Control of IRES-Mediated Translation in X-Linked Dyskeratosis Congenita
Science 12 May 2006:
Vol. 312. no. 5775, pp. 902 - 906

10 Maio, 2006

Software de bioinformatica

Foi desenvolvido um programa de computador que poderá ser bastante útil para futuros estudos genômicos. A nova ferramenta, nomeada de Endeavour, foi projetada para identificar genes ligados a vários tipos de doenças humanas.

O software desenvolvido por pesquisadores de dois grupos da Universidade Católica de Leuven (Bélgica) percorre dez tipos de bancos de dados internacionais preenchidos por genes comprovadamente ligados a distúrbios e outros ainda com função indefinida. Após essa varredura, o modelo matemático desenvolvido pelos autores integra os dois conjuntos de informação. Na etapa final, o Endeavour informa ao operador qual daqueles genes desconhecidos pode estar envolvido com algum tipo de doença.

Na fase de testes, os pesquisadores resolveram jogar no programa, com o rótulo de “desconhecidos”, genes sabidamente relacionados com vários distúrbios de ordem genética. Como o computador associou corretamente os genes para Alzheimer, leucemia, câncer de cólon e doença de Parkinson, os autores consideraram o desempenho da ferramenta bastante confiável.


O programa Endeavour pode ser usado a partir do site:
www.esat.kuleuven.ac.be/endeavour

Fonte:
Agencia FAPESP

09 Maio, 2006

Pimenta vermelha contra cancer

Um componente das pimentas-vermelhas chamado capsaicina, além de fazer a língua arder, faz as células de tumores de próstata se suicidarem, de acordo com um estudo publicado na edição de 15 de março da revista Cancer Research. Em experimentos feitos em laboratório pela equipe de Sören Lehmann, do Centro Médico Cedars-Sinai, Estados Unidos, a capsaicina induziu cerca de 80% das células tumorais de próstata de camundongo mantidas em cultura a acionarem os mecanismos bioquímicos que conduzem à morte celular, também chamada de apoptose. Como resultado, tumores tratados com capsaicina tinham cerca de um quinto do tamanho de tumores não tratados. A capsaicina também reduziu tanto a produção de PSA, uma proteína produzida em quantidades elevadas pelos tumores de próstata, quanto o crescimento de tumores cujo crescimento está associado à testosterona, um hormônio sexual masculino. Segundo Lehmann, a dose necessária para surtir o mesmo efeito nos seres humanos equivale à ingestão de três a oito pimentas-vermelhas frescas, três vezes por semana. Os pesquisadores trabalharam com o extrato de uma pimenta mexicana com teor maior de capsaicina, conhecida como habañera.

Fonte:
Revista Pesquisa FAPESP

07 Maio, 2006

Gene do autismo em ratos

Cientistas da Universidade do Texas criaram um rato 'autista' ao retirar um gene de regiões específicas do cérebro do animal.

Os pesquisadores observaram que os ratos apresentaram comportamentos comuns em pessoas autistas, como dificuldade de interação social e alta sensibilidade.

Segundo os especialistas, o estudo, publicado na revista Neuron, pode levar a um melhor entendimento das causas do autismo.

O pesquisador britânico Simon Baron-Cohen, da Universidade de Cambridge, enfatizou, no entanto, que os resultados do estudo são interessantes, mas ainda é cedo para se chegar a qualquer conclusão em relação ao autismo em humanos.

De acordo com Cohen, o estudo tem relevância na compreensão do autismo, mas comportamentos sociais anormais em ratos podem ser causados por fatores diferentes dos que afetam humanos.

"Esse estudo aumenta nossa compreensão de como genes presentes no cérebro podem ter funções específicas relativas à neuroanatomia e ao comportamento", disse o pesquisador.

Gene Pten
O autismo afeta a maneira como uma pessoa se comunica e interage com os que estão à sua volta. Cerca de 90 em cada 10 mil pessoas sofrem da condição. Os distúrbios tendem a emergir na infância e são mais comuns em meninos.

A equipe da Universidade do Texas estudou ratos que tiveram o gene Pten retirado de células nervosas do seu córtex cerebral e do seu hipocampo.

O Pten está associado ao autismo, já que alguns autistas apresentam mutações no gene. Ele também é conhecido por suprimir o câncer. O córtex cerebral e o hipocampo estão associados ao aprendizado e à memória.

Os ratos geneticamente modificados apresentaram comportamentos anormais quando comparados a outros ratos.

Eles eram menos sociáveis e demonstravam menor curiosidade quando ratos estranhos entravam na gaiola.

Quando expostos a objetos inanimados e a outros ratos, os animais que não tinham o gene Pten demonstravam mais interesse pelo objeto, um comportamento observado também em crianças autistas, que preferem brinquedos a pessoas.

Outras anomalias eram maior sensibilidade a estímulos estressantes como barulho alto e contato com humanos.

Os ratos que sofreram modificações genéticas também estavam menos inclinados a construir ninhos e cuidar de seus bebês.

Pten Regulates Neuronal Arborization and Social Interaction in Mice
Neuron 2006 50: 377-388.

BBC Brasil

01 Maio, 2006

Vacina contra virus similar ao Ebola

Uma equipe de cientistas canadenses diz ter criado uma vacina que parece ser capaz de proteger macacos contra o vírus que causa a Doença de Marburg. Os especialistas falam do seu experimento em artigo na revista científica Lancet. A Febre Hemorrágica pelo Vírus de Marburg provoca sangramento interno e falência múltipla de orgãos.
Não há um tratamento para a condição.

O vírus da Doença de Marburg foi identificado em 1967 e pertence à mesma família que o temido vírus Ebola.

Os dois são vistos como armas biológicas em potencial.

Epidemia em Angola
Recentemente, entre 2004 e 2005, uma epidemia da doença matou centenas de pessoas em Angola.

Pesquisadores do National Microbiology Laboratory, no Canadá, e do Army Medical Research Institute of Infectious Diseases (o instituto de pesquisas médicas do Exército) nos Estados Unidos trabalharam no desenvolvimento da vacina.

Eles conseguiram identificar no DNA do vírus de Marburg um gene que não provoca a doença.
Depois, isolaram um outro vírus encontrado na natureza, que não causa doenças, e inseriram nesse vírus o gene retirado do DNA do vírus de Marburg.

A idéia é que indivíduos inoculados com a vacina contendo o vírus modificado reconheçam sua presença em caso de contágio e ataquem o agressor.

Cinco macacos foram infectados com o vírus de Marburg e, entre 20 e 30 minutos depois, foram vacinados.

Outros três macacos infectados receberam vacinas que não continham o gene do vírus.
Os pesquisadores verificaram que todos os macacos vacinados com o imunizante que continha o gene do vírus de Marburg sobreviveram durante pelo menos 80 dias.

Os outros macacos morreram dentro de um período de 12 dias.

Os pesquisadores, liderados pelo cientista Thomas Geisbert, admitem ainda não entender como a vacina funciona.

Em estudos anteriores, ela já tinha se mostrado eficiente em proteger macacos contra os sintomas da doença quando aplicada antes do contágio.

Uma vacina eficaz após o contágio, no entanto, tem grande importância estratégica em caso de guerra biológica.

Em um artigo adicional publicado na revista Lancet, o pesquisador Stephen Becker, do Robert Kock Institute, em Berlim, disse que, devido ao número pequeno de casos, é pouco provável que a vacina seja disponibilizada comercialmente.

Entretanto, investimentos maciços em pesquisas com vírus de grande potencial para uso como armas biológicas podem resultar em avanços no desenvolvimento dessas vacinas, disse Becker.

Fonte:
BBC Brasil