Proteina da regeneracao hepatica
Fator que controla o desenvolvimento de neurônios é essencial também à reprodução de células hepáticas
Uma proteína conhecida por controlar o crescimento e diferenciação dos neurônios parece também ter um papel importante na regeneração do fígado. O estudo realizado na Universidade da Califórnia (EUA) sugere que a proteína, conhecida como p75NTR, pode ser um alvo promissor para tratamentos contra doenças como cirrose e hepatite. A proteína é expressa no sistema nervoso durante seu desenvolvimento ou quando este sofre danos. Além disso, é produzida em grandes quantidades nos fígados de humanos com cirrose e modelos animais da doença.
A equipe coordenada por Melissa Passino criou uma linhagem de camundongos transgênicos que não produzem a p75NTR e observou que essas cobaias produziam números menores de células chamadas hepatócitos em seus fígados. Elas são as responsáveis pelo incrível potencial de regeneração do órgão, já que têm uma grande capacidade de se multiplicar e formar novos tecidos. Esse processo envolve ainda as células estreladas hepáticas (ou células de Ito), que produzem uma matriz extracelular sobre a qual os hepatócitos proliferam. De acordo com os autores, a p75NTR parece ativar as células de Ito, induzindo-as a formar a matriz necessária à reprodução dos hepatócitos. O trabalho mostra que é importante manter os níveis da p75NTR e a atividade das células de Ito quando a regeneração de células do fígado for necessária, como no caso de transplantes.
Fontes:
Key to Liver Regeneration. Passino et al. Science 30 March 2007: Vol. 315. no. 5820, p. 1764.
Revista Pesquisa FAPESP
Camundongo transgenico ve mais cores
Mutação em gene faz camundongo enxergar tons em vermelho e pode explicar como surgiu a visão humana
Camundongos transgênicos, com uma mutação nos genes relacionados à percepção das cores, foram capazes de enxergar mais cores do que normalmente conseguem com sua visão dicromática, que lhes permite visualizar apenas os tons em azul e amarelo, além do cinza. A equipe de Gerald Jacobs, da Universidade da Califórnia (EUA), introduziu uma mutação no cromossomo X dos roedores que os levou a produzir um terceiro fotopigmento, sensível aos comprimentos de onda mais longos da luz, em especial os tons mais próximos do vermelho. Os autores desenvolveram então uma série de testes em que as cobaias eram premiadas com uma gota de leite de soja ao distinguir entre painéis e luzes de diferentes cores. Os testes mostraram que o sistema nervoso das cobaias havia “reconhecido” os sinais enviados por esse novo fotopigmento e era capaz de distinguir todas as cores do espectro. Diferentemente do homem, que enxerga todos os tons do espectro visível, a maioria dos mamíferos só é capaz de distinguir certas cores. Os camundongos têm o que se conhece como visão bicromática (é como se só enxergassem tons de azul, amarelo e cinza), enquanto a maioria dos primatas tem visão tricromática. Esta última precisa de três tipos diferentes de moléculas sensíveis à luz – os fotopigmentos – e dos respectivos circuitos neurais necessários para interpretar esses sinais. O experimento de Jacobs mostra como podem ter ocorrido as mutações genéticas que permitiram aos ancestrais do homem distinguir todas as cores.
Fontes:
Generating Color Vision in the Mouse. Jacobs et al. Science 23 March 2007 315: 1633.
Revista Pesquisa Fapesp
DNA repetido no autismo
Os distúrbios relacionados ao autismo podem ser causados por cópias repetidas de certas seqüências de DNA – as chamadas copy number variations ou CNVs. O estudo coordenado por Jonathan Sebat, do Laboratório Cold Spring Harbor (EUA), identificou repetições de diferentes genes em cada paciente, o que indica que o autismo pode ser resultado de defeitos genéticos diversos. Participaram do estudo 264 famílias, das quais 118 tinham apenas um caso de autismo, 47 tinham mais de uma criança autista e um grupo controle de 99 famílias que não tinham nenhum diagnóstico familiar do distúrbio. Os resultados indicam que a ocorrência de CNVs parece ser mais relevante em famílias com casos isolados de autismo. Cerca de 10% dessas famílias apresentaram repetições, contra apenas 2% nas famílias com casos múltiplos e 1% no grupo controle. Apesar de alguns estudos apontarem para uma grande importância do fator hereditário, a maioria dos casos de autismo não apresenta histórico familiar dessa condição. Da mesma forma, ainda não foram encontrados genes diretamente ligados ao autismo. Ou seja, esses fatores hereditários devem ser bastante complexos. Para a equipe de Sebat, não está claro como as alterações encontradas contribuem para o surgimento do autismo, mas elas parecem ter um papel central no surgimento do distúrbio.
Fontes:
Destaques da Science de 16/03/2007 (Vol. 315, N°. 5818)
Revista Pesquisa FAPESP
Gene da enxaqueca
Estudo identifica proteína que pode estar relacionada a crises de enxaqueca. Substância estimula resposta do sistema nervoso a neuropeptídeo com papel importante nos episódios de dor.
Um grupo da Universidade de Iowa, nos Estados Unidos, acaba de identificar uma potencial candidata para responder a uma velha questão: por que algumas pessoas têm enxaqueca e outras não.
Os pesquisadores verificaram que o excesso de uma proteína conhecida como Ramp-1 aparentemente estimula a resposta de um receptor do sistema nervoso ao neuropeptídeo CGRP. Estudos anteriores haviam mostrado que o CGRP, sigla em inglês para “peptídeo relacionado ao gene da calcitocina”, tem um papel importante nas dores de cabeça durante crises de enxaqueca.
Sabe-se que níveis de CGRP no sangue se elevam durante as crises e tem se verificado que medicamentos que reduzem as quantidades do peptídeo ou que bloqueiam a sua ação contribuem significativamente para a redução das dores. Em outros experimentos, ao injetar CGRP em indivíduos suscetíveis à enxaqueca, o resultado foi a indução de episódios severos de cefaléia.
O novo estudo aponta que a proteína Ramp-1 é uma das chaves para a regulagem do CGRP. “Os resultados sugerem que pessoas com enxaqueca têm níveis mais elevados de Ramp-1”, disse Andrew Russo, um dos autores da pesquisa, em comunicado da Universidade de Iowa. A pesquisa foi publicada na edição de 7 de março do Journal of Neuroscience.
A Ramp-1 é parte fundamental do receptor de CGRP. Os pesquisadores descobriram que o excesso da proteína em células nervosas aumentou a sensibilidade e a resposta dos receptores de CGRP ao neuropeptídeo. Ou seja, mais Ramp-1 fez com que os receptores reagissem a concentrações muito menores de CGRP do que o normal, e de modo muito mais vigoroso.
Os cientistas utilizaram camundongos geneticamente modificados para expressar Ramp-1 humana em seu sistema nervoso central, além da própria versão do animal para a proteína. O resultado foi que os camundongos apresentaram duas vezes mais inflamação em resposta ao CGRP do que o grupo de animais comuns.
Os autores da pesquisa sugerem que portadores de enxaqueca possam ter pequenas diferenças no gene da Ramp-1, que resultam em níveis maiores da proteína do que o normal. “Há claramente uma diferença genética entre pessoas que têm enxaqueca e outras que não têm e achamos que essa diferença pode ser a Ramp-1. O estudo fornece um motivo para que busquemos variações no DNA que expressem essa proteína em humanos”, disse Russo.
Fontes:
Sensitization of calcitonin gene-related peptide receptors by Receptor Activity-Modifying Protein-1 in the trigeminal ganglion. Andrew Russo et al. The Journal of Neuroscience, March 7, 2007, 27(10):2693-2703.
Agencia FAPESP
Projeto genoma do cancer
Cientistas do Projeto Genoma do Câncer, do Instituto Wellcome Trust Sanger, no Reino Unido, e de diversos outros centros de pesquisa na Europa, nos Estados Unidos, Austrália e China, acabam de anunciar um trabalho pioneiro no estudo do câncer.
Os pesquisadores conseguiram seqüenciar 518 genes ligados a 210 tipos de câncer que atingem os seres humanos. O maior trabalho do gênero até o momento identificou ainda mais de mil mutações diferentes. Os resultados estão na edição de 8 de março da revista Nature.
O levantamento destaca que o número de genes responsáveis pelo desenvolvimento dos diversos tipos da doença é muito maior do que se imaginava. Além disso, cada uma dessas células transporta muitas outras mutações. Segundo os autores, o estudo coloca em evidência um grande desafio para a pesquisa do câncer: distinguir entre as células transportadoras e as mutações.
O câncer, no momento em que é diagnosticado, soma bilhões de células que carregam anormalidades genéticas que deram início à proliferação maligna e muitas outras lesões genéticas adicionais adquiridas pelo caminho. Algumas dessas mutações secundárias se devem à pressão seletiva durante a formação de tumores (que os pesquisadores chamaram de “condutoras”), enquanto outras podem ser casuais (os “passageiras”).
“Essas últimas podem resultar da exposição a mutações, de instabilidade genômica ou simplesmente do grande número de multiplicações celulares desde uma única célula modificada até o câncer detectável clinicamente”, explicaram Daniel Haber e Jeff Settleman, da Escola Médica Harvard, em comentário sobre o seqüenciamento na mesma edição da Nature.
O grupo internacional de cientistas estudou mais de 500 genes da quinase, uma enzima que regula outras proteínas por meio da adição de resíduos de fosfato. Sabia-se que algumas das proteínas analisadas estariam implicadas em alguns tipos de câncer, como o gene Braf, cuja mutação está presente em mais de 60% dos casos de melanoma.
O novo estudo destaca a divisão das mutações em condutoras e passageiras. O primeiro tipo seria aquele que estimula o crescimento de células cancerígenas, enquanto o outro não contribuiria para o desenvolvimento da doença. Os pesquisadores identificaram 120 condutores possíveis, a maioria até então desconhecida.
“A maior parte das mutações em cânceres é do tipo passageiro. Entretanto, escondido entre eles há um número de condutores muito maior do que antecipávamos. Isso sugere que há um número de genes envolvido com o desenvolvimento de câncer muito superior ao que se poderia imaginar”, disse Andy Futreal, um dos líderes do Projeto Genoma do Câncer no Instituto Sanger.
Fontes:
Patterns of somatic mutation in human cancer genomes. Christopher Greenman et al. Nature 446, 153-158 (8 March 2007).
Agencia FAPESP
Mutacao genetica na sindrome metabolica
Uma mutação genética pode explicar por que a doença arterial coronariana está comumente associada a condições como hipertensão e diabetes. Esse conjunto de patologias, conhecido como síndrome metabólica, é uma das principais causas de mortes no mundo. Uma equipe da Universidade Yale (EUA), que estudou uma família portadora de uma forma rara e precoce da doença arterial coronariana, encontrou uma mutação em um gene chamado LRP6. Esse gene faz parte da chamada “via Wnt”, uma complexa rede de proteínas envolvida em diversos processos biológicos e conhecida especialmente por seu papel no desenvolvimento do embrião e no surgimento de cânceres. A descoberta dessa mutação pode ajudar a entender a freqüência com que essas doenças estão associadas na população em geral.
Fontes:
LRP6 Mutation in a Family with Early Coronary Disease and Metabolic Risk Factors Arya Mani, Jayaram Radhakrishnan, He Wang, Alaleh Mani, Mohammad-Ali Mani, Carol Nelson-Williams, Khary S. Carew, Shrikant Mane, Hossein Najmabadi, Dan Wu, and Richard P. Lifton
Science 2 March 2007: 1278-1282.
Revista Pesquisa FAPESP