22 Dezembro, 2006

Bactérias favorecem obesidade

Gordos têm maior quantidade de microorganismos que estimulam ganho de peso
As causas da epidemia global de obesidade podem ir além dos maus hábitos alimentares. Segundo estudo de cientistas da Universidade de Washington (EUA), a composição da flora intestinal dos gordos é distinta da dos magros e essa diferença pode favorecer o acúmulo de gordura. A equipe de cientistas liderada por Jeffrey Gordon observou que, em relação a indivíduos magros, as pessoas obesas têm 20% a mais de bactérias do filo Bacteroidetes e 90% a menos do filo Firmicutes. Esses são os dois grupos principais de microorganismos encontrados nos intestinos que ajudam no processo de digestão dos alimentos. Os pesquisadores, que estudaram 12 pessoas submetidas a um regime de baixa caloria, também perceberam que a população de bactérias num mesmo indivíduo se altera à medida que ele perde ou ganha peso. Ou seja, a flora intestinal varia conforme a quantidade de gordura presente no corpo. Mas essa comunicação do organismo com as bactérias é de mão dupla. Quando se muda a composição das populações de bactérias no intestino, e isso foi demonstrado até agora em camundongos, pode se favorecer ou dificultar o ganho de peso.

Fontes:

Microbial ecology: Human gut microbes associated with obesity. Ruth E. Ley et al. Nature 444, 1022-1023 (21 December 2006).

Revista Pesquisa Fapesp

20 Dezembro, 2006

Gene da dor

Descoberto gene que controla a sensação física da dor

Depois de estudar pessoas de três famílias paquistanesas aparentadas que simplesmente nunca sentiram dor, pesquisadores da Universidade de Cambridge, Inglaterra, identificaram uma mutação no gene SCN9A que controla a sensação de sofrimento físico. A anomalia genética tornava os membros dos três clãs imunes à dor. O gene SCN9A é responsável por produzir uma proteína encontrada em neurônios que captam os sinais de dor. A equipe de Geoffrey Woods mostrou numa cultura de tecidos que, quando ocorrem mutações nesse gene, os canais de sódio por onde passa a informação nervosa a respeito da dor se fecham. Por isso, as pessoas com a alteração genética não experimentam desconfortos físicos. A descoberta pode auxiliar no desenvolvimento de potentes analgésicos.

Fontes:

An SCN9A channelopathy causes congenital inability to experience pain. James J. Cox et al. Nature 444, 894-898 (14 December 2006).

Revista Pesquisa Fapesp

12 Dezembro, 2006

Gene da evolucao da leucemia

Após ter identificado proteínas específicas em pacientes com leucemia mielóide crônica (LMC) e proteínas somente expressas em doadores sadios, equipe de pesquisadores do Instituto Nacional do Câncer (Inca) descobriu um gene importante no processo de evolução da doença da fase crônica para a fase aguda.

Resultante de uma lesão adquirida (não hereditária) no DNA de uma célula tronco da medula óssea, a LMC se caracteriza, na maioria dos casos, pela presença do cromossomo Philadelphia (Ph), uma anormalidade genética descoberta em 1960 por Peter Nowell, da Universidade da Pensilvânia, e David Hungerford, do Instituto de Pesquisa do Câncer Fox Chase, nos Estados Unidos.

Agora, o grupo da Divisão de Laboratórios do Centro de Estudos de Medula Óssea (Cemo), do Inca, no Rio de Janeiro, vem dando passos significativos no estudo da LMC – responsável por cerca de 15% de todas as leucemias.

Num primeiro momento, o grupo, liderado pela biofísica Eliana Abdelhay, identificou 22 proteínas específicas de pacientes com a doença e outras nove proteínas expressas somente em doadores sadios. O trabalho foi publicado na revista americana Biochimica et Biophysica Acta (BBA – v. 1764).

“Comparamos o perfil protéico de células mononucleares da medula óssea de pacientes com o perfil protéico de doadores e identificamos proteínas que são superexpressas num determinado tipo de célula. Essas proteínas são o que chamamos de biomarcadores, isto é, podem definir um portador da doença ou não”, disse Eliana à Agência FAPESP.

Eliana começou a pesquisa há cinco anos, no Departamento de Biofísica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e hoje trabalha com mais de 100 pacientes no Inca. Segundo ela, a investigação visa a identificar marcadores da fase crônica da leucemia para auxiliar médicos e especialistas para evitar as fases agudas da doença.

“A LMC evolui para a leucemia aguda por meio das crises blásticas. Procuramos descobrir o que faz um paciente entrar nessas crises”, explica a biofísica. Normalmente, as células da medula óssea, denominadas blastos, ao amadurecer se transformam em diversos tipos de glóbulos, os quais possuem funções específicas no corpo. A leucemia mielóide crônica afeta os blastos que estão se transformando em glóbulos brancos do tipo granulócitos. Esses blastos não amadurecem e se multiplicam, migrando para o sangue.

Os pesquisadores do Cemo acabam de descobrir mais um marcador importante no processo de evolução da doença da fase crônica para a fase aguda – o gene SUZ12, o qual tem um papel preponderante, pois regula uma série de outros genes. Os resultados da fase atual da pesquisa ainda serão publicados.

“O objetivo de nosso trabalho é analisar os tipos de marcadores encontrados em pacientes com leucemia mielóide crônica e correlacionar estes dados com a clínica do paciente no sentido de verificar se esta correlação é realmente importante para a evolução da doença”, observa Eliana.

Fontes:

Altered protein profile in chronic myeloid leukemia chronic phase identified by a comparative proteomic study.
Biochim Biophys Acta. 2006 May;1764(5):929-42. Epub 2006 Mar 10.
Pizzatti L, Sa LA, de Souza JM, Bisch PM, Abdelhay E.


Agência FAPESP