Genetica da esclerose multipla
A descoberta de fatores genéticos associados com a esclerose múltipla, sugerem uma possível relação entre essa e outras doenças auto-imunes.
Os resultados estão sendo publicados simultaneamente pelas revistas Nature Genetics e New England Journal of Medicine. Trata-se dos primeiros estudos compreensivos a investigar as bases genéticas da esclerose múltipla, doença do sistema nervoso central que pode levar à paralisia completa. Inflamatória, crônica e degenerativa, é considerada uma doença auto-imune, que se manifesta a partir da combinação de fatores genéticos e ambientais.
As novas pesquisas, que analisaram amostras do DNA de mais de 20 mil pessoas nos Estados Unidos e na Europa, confirmaram que genes do sistema imunológico são alterados em indivíduos diagnosticados com esclerose múltipla e destacaram mecanismos potenciais causadores da doença.
Em um dos estudos, o grupo coordenado pelo norte-americano Jonathan Haines, do Centro Médico da Universidade Vanderbilt, verificou que variantes no gene IL7R (receptor de interleucina 7) eram muito mais comuns em indivíduos com esclerose múltipla.
Paralelamente, o grupo liderado por Jan Hillert, do Instituto Karolinska, na Suécia, observou a mesma associação entre variantes do IL7R e a doença. Esse gene está presente na superfície de determinadas células e no soro sangüíneo. A variante ligada à esclerose resulta de baixos níveis da forma superficial do IL7R e de elevados níveis da forma em soro. Os dois trabalhos serão publicados esta semana na Nature Genetics.
Segundo o estudo de Haines e colegas, a mudança nos níveis relativos das duas formas do gene pode alterar a atividade do sistema imunológico, fazendo com que pessoas que tenham a variante sejam mais suscetíveis para desenvolver a esclerose múltipla.
Em outro trabalho, publicado no New England Journal of Medicine, o grupo conduzido por David Hafler, da Escola Médica da Universidade Harvard, confirmou a associação entre o IL7R e a doença. Os pesquisadores analisaram polimorfismos de nucleotídeos únicos – pequenas diferenças na seqüência de DNA que representam variações genéticas comuns entre indivíduos – e procuraram por variações que fossem herdadas mais freqüentemente por pacientes com esclerose múltipla.
Para confirmar os resultados, Hafler e colegas realizaram nova análise em outras famílias, em casos isolados da doença e em um grupo controle. Em seguida, os resultados foram combinados para uma análise final, com uma amostra total de mais de 12 mil pessoas.
Fontes:
Interleukin 7 receptor α chain (IL7R) shows allelic and functional association with multiple sclerosis. Simon G Gregory et al. Nature Genetics (29 Jul 2007) Article.
Variation in interleukin 7 receptor α chain (IL7R) influences risk of multiple sclerosis. Frida Lundmark et al. Nature Genetics, Published online: 29 July 2007.
Novel risk alleles for multiple sclerosis identified by a whole genome association study. New England Journal of Medicine.
www.nejm.orgAgencia FAPESP
Sequenciamento do genoma do eucalipto aprovado
O Departamento de Energia dos Estados Unidos (DOE) aprovou a proposta da rede internacional Eucagen (Eucalyptus Genome Network), liderada por três países, entre eles o Brasil, para o seqüenciamento completo do genoma do eucalipto.
O projeto, idealizado com participação do Projeto Genolyptus: Rede Brasileira de Pesquisa do Genoma de Eucalyptus, concorreu com 120 outros projetos de diversos países que atenderam à chamada competitiva anual do Joint Genome Institute (JGI), ligado ao DOE. A chamada tem como objetivo o seqüenciamento de genomas de organismos que sirvam como fontes renováveis de energia.
O DOE, em conjunto com universidades norte-americanas, pretende começar o seqüenciamento do genoma completo do eucalipto em 2008, uma vez que a planta é considerada como uma potencial fonte para a produção de energia de biomassa.
A espécie escolhida e proposta pelos pesquisadores brasileiros é a Eucalyptus grandis, desenvolvida por melhoramento genético e que, de acordo com eles, apresenta características que deverão acelerar e facilitar a montagem da seqüência.
O Projeto Genolyptus tem oito subprojetos e é liderado por sete universidades, pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e por 14 empresas que plantam eucalipto para papel, celulose e energia.
O objetivo é pesquisar, em plantações espalhadas por todo o território nacional, as melhores formas de aumentar a produção, diminuir a poluição das indústrias e criar eucaliptos mais resistentes e adequados a diferentes usos.
A área cultivada de eucalipto no planeta é estimada em 18 milhões de hectares, sendo que o Brasil planta cerca de 3,5 milhões de hectares. Originário da Austrália, o eucalipto possui mais de 600 espécies e 20 delas são plantadas em mais de cem países para fins energéticos e industriais.
Fontes:
DOE Joint Genome Institute
http://www.jgi.doe.gov/News/news_6_8_07.html
Agencia FAPESP
http://www.agencia.fapesp.br/boletim_dentro.php?data[id_materia_boletim]=7387
Anticorpos contra SARS
Identificados os primeiros anticorpos humanos que podem neutralizar diferentes tipos do vírus responsável pelos surtos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (Sars).
Os cientistas utilizaram um modelo animal (camundongos) e ensaios in vitro para testar a atividade neutralizante dos anticorpos.
Os surtos de Sars ocorreram em humanos entre 2002 e 2003 e, novamente, entre 2003 e 2004. Estima-se que cada um dos surtos tenha ocorrido quando o vírus passou de um animal hospedeiro para humanos. Com isso, tipos do vírus presentes em animais poderiam ser capazes de desencadear um futuro surto em humanos.
A equipe foi liderada por cientistas do Instituto Nacional do Câncer (NCI) e do Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas (Niaid), ambos ligados aos Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos. O trabalho teve colaboração do Exército norte-americano e de instituições acadêmicas da Suíça e Austrália.
“O que precisamos provar para a obtenção de qualquer vacina, terapia, anticorpo ou droga é se ela é efetiva não apenas contra o tipo de vírus isolado de pessoas, mas também contra uma variedade de tipos animais, uma vez que os animais serão uma provável fonte de reemergência da Sars”.
A pesquisa sobre a glicoproteína que é o vetor do vírus (isto é, que permite sua entrada na célula) disponibilizou o conhecimento necessário para identificar vários anticorpos humanos contra o vírus da Sars.
Dimitrov e equipe identificaram dois anticorpos que se ligam à região do vetor do vírus conhecida como RBD. Um dos anticorpos foi encontrado no sangue de um paciente que havia se recuperado da Sars após infecção. O outro foi retirado de uma biblioteca de anticorpos humanos desenvolvida pelos pesquisadores com o sangue de dez voluntários saudáveis.
Como os humanos já têm células imunes que expressam anticorpos muito próximos àqueles que podem de fato neutralizar o vírus da Sars, o segundo anticorpo pôde ser retirado de voluntários saudáveis.
A estrutura do anticorpo foi determinada e os pesquisadores demonstraram que o anticorpo se liga à RBD, que permite a entrada do vírus nas células. Nos testes laboratoriais, ambos os anticorpos neutralizaram potencialmente amostras do vírus.
Os cientistas testaram em seguida os anticorpos em ratos. Vinte e quatro horas depois de receber injeções com um dos dois anticorpos, os animais foram expostos a amostras do vírus da Sars de um dos dois surtos, ou dos vírus isolados a partir dos gatos selvagens.
Os ratos que receberam os dois anticorpos ficaram completamente protegidos da infecção por Sars de humanos. Ficaram também protegidos contra a infecção de Sars dos gatos selvagens, mas não completamente.
Análises posteriores da estrutura do anticorpo encontrado em humanos saudáveis e de suas interações com mutações experimentais na área RBD do vírus sugeriram que o anticorpo poderia neutralizar todas as formas conhecidas do vírus.
“Essa pesquisa nos deixa mais bem preparados para a possível reemergência de vírus semelhantes aos que causaram mais de 8 mil casos de Sars em humanos e cerca de 800 mortes entre 2002 e 2003”, disse o diretor do Niaid, Anthony Fauci.
Fontes:
Potent cross-reactive neutralization of Sars coronavirus isolates by human monoclonal antibodies. Dimiter Dimitrov et al.
www.pnas.orgAgencia FAPESP
Novo tipo de celula-tronco embrionaria
Descoberto novo tipo de célula-tronco embrionária em camundongos e em ratos que é muito semelhante às humanas.
Até agora, células-tronco embrionárias derivadas de humanos e de camundongos tinham características diferentes e também não se comportavam do mesmo modo. A principal similaridade entre elas era a pluripotência, ou seja, a capacidade de se transformar em quase todo tipo de células. Mas as maneiras com que as células do camundongo e do homem mantêm o estado pluripotente são diferentes, assim como elas exigem técnicas diversas para crescer em cultura.
Dois grupos, um baseado na Universidade de Cambridge e o outro na de Oxford, contaram com a colaboração de pesquisadores de outros países para descobrir que, quando células-tronco de camundongos eram derivadas do epiblasto (derivado pluripotente da massa celular interna) de um animal com uma semana, no lugar de derivar do estágio de blastocisto inicial (3 a 4 semanas após a concepção), como tem sido feito, elas se assemelhavam e tinham muitas das propriedades das células-tronco embrionárias humanas.
Segundo os trabalhos, essas células-tronco de camundongos podem ser mantidas a partir do uso dos mesmos fatores de crescimento empregados na cultura de células-tronco embrionárias humanas.
Os pesquisadores dos dois grupos conseguiram produzir linhagens celulares estáveis que foram usadas para identificar como as novas células se mantinham pluripotentes ou passavam a se especializar durante o desenvolvimento. Além disso, as novas células-tronco, ao serem observadas por microscopia, mostraram aparência muito semelhante às humanas.
Na seqüência, foram feitas análises em laboratórios ingleses e norte-americanos para identificar características moleculares das células-tronco recém-derivadas. Os resultados confirmaram a similaridade entre as células de camundongo e do homem.
“As células-tronco epiblásticas constituem elo que faltava entre as células-tronco embrionárias humanas e de camundongos. No nível molecular, as células epiblásticas são mais similares às humanas. As diferenças entre as células humanas e de camundongos, que atribuimos a diversidades entre as espécies, podem estar nos estágios de desenvolvimento por meio dos quais as células se formam”, disse Roger Pedersen, do Conselho de Pesquisas Médicas britânico.
“Essas descobertas indicam que as células-tronco embrionárias humanas se originam em um estágio de desenvolvimento posterior ao que se imaginava. O fato de que dois estudos chegaram às mesmas conclusões ao mesmo tempo possibilita que outros pesquisadores usem essas novas informações imediatamente”, disse Richard Garner, da Universidade de Oxford, que liderou um dos estudos. Segundo Garner, a existência dos dois estudos, simultâneos e independentes, destaca o importante momento atual nas pesquisas em células-tronco.
O estudo coordenado por pesquisadores da Universidade de Cambridge também é o primeiro a descrever a derivação de células-tronco pluripotentes a partir de embriões de ratos. Até agora, tais células têm sido derivadas de camundongos ou de primatas, com sucesso limitado em outras espécies.
Fontes:
New cell lines from mouse epiblast share defining features with human embryonic stem cells. Paul J. Tesar et al. Nature advance online publication 27 June 2007.
Derivation of pluripotent epiblast stem cells from mammalian embryos. Gabrielle M. Brons et al. Nature advance online publication 27 June 2007.
Agencia FAPESP